sábado, 25 de fevereiro de 2017

"Amigo de todos os momentos"



Amigo de todos os momentos[1]

Sidmar da Silva Oliveira[2]

Todos os dias, observo um amigo que é professor, durante o processo de reflexão e planejamento das aulas, bem como, os estudos que realiza a fim de ter uma formação continuada e assim, poder lidar com as diferentes temáticas e as dificuldades encontradas em sala de aula. Há dias que esse educador ao chegar muito cansado em sua casa, logo entra em seu quarto, onde há cama, computador, impressora, uma pequena biblioteca... Joga-se na cama e reflete sobre a aula do dia, o que fazer amanhã, as habilidades que vem desenvolvendo, problemas enfrentados... Enfim, vejo um rapaz com cara de preocupado com tudo.
Apesar de sua vida corrida e complicada, vejo que ele dá seu máximo, tanto como professor, como aluno da Faculdade do Sertão Baiano-FASB, onde estuda; e que sou muito importante para ele, já que me deseja ao seu lado e sempre me pede ajuda. Eu como bom amigo, jamais me recuso a ajudar, pois vejo a educação como um momento de interação entre os recursos que há em um espaço físico, e sei que onde não sou utilizado, pode haver certo desconforto.
Certo dia, observei o professor dizer que tinha assistido a um filme (como estrelas na terra) e que este filme lhe trouxe uma grande reflexão acerca do processo educacional e com isso, iria se tornar mais flexível com seus alunos que apresentam dificuldades. Já ajudei o mesmo a construir uma TV de papelão, alfabeto móvel, números móveis, bingos dentre tantos outros recursos, a fim de mudar a realidade dessas crianças. Vi o mesmo muito preocupado com alguns alunos, com as cobranças do sistema, com inúmeros trabalhos da faculdade... Entretanto, muito motivado perante seu trabalho e estudos.
Nos domingos, vejo meu amigo rodeado de livros, atividades e pesquisando no computador, tudo isso, a fim de preparar aulas desafiadoras. Quando estou ajudando, às vezes derrubo alguma coisa (atividade) e ele quando de bom humor - ri, quando irritado por não ter tempo para passear, distrair com os amigos, fica muito bravo, mas agradece a Deus e a mim por estarmos de seu lado lhe ajudando. Ele procura planejar suas aulas com muita organização e sentido, partindo valorização dos conhecimentos prévios e da realidade de seus alunos, visando tornar a educação libertadora e que possa ter sentido para a vida dos educandos.
Meu cordial amiguinho, sempre procura trocar experiência com os colegas, aplica-se perante os trabalhos e estudo da faculdade, se comparece e participa das reuniões pedagógicas e reflete as teorias estudadas a fim de incorporá-las a sua pratica pedagógica. Ele costuma dizer que “na teoria é flores e que a prática só sabe quem convive com ela”. Todavia, dá muita ênfase a teoria. Procura unir o que aprende com os professores e o estudo dos teóricos, a sua metodologia de trabalho. Com meu auxílio para distrair; reflete, pesquisa, planeja e replaneja suas aulas, visando propiciar uma aprendizagem prazerosa e significativa.
Seu trabalho tende a desenvolver processo de alfabetização e letramento, bem como a reflexão e a formação crítica-reflexiva da criançada. Ele é professor do terceiro ano, e espera ao final do ano, perceber que seus alunos desenvolveram as habilidades trabalhadas, tornando-os competentes e preparados para a sequência de estudos e a vivencia na sociedade.
Certo dia, ele chegou e deitou-se em sua cama e me pediu auxílio, não por estar angustiado, mas sim por estar feliz, já que, seus alunos haviam lido e compreendido um convite elaborado pela escola, para os pais. Atendi o professor que se deliciava com os resultados que começavam a aparecer. Enfatizava ainda, que corria muito, não tinha descanso e nem lazer, mas começava a ver que as metodologias de leitura começavam a servir para a vida dos alunos. Falava ainda: "que bom, a escola, educação e leitura não podem ser só para notas, mas sim para a compreensão e significado do mundo".
Vejo o docente preocupado com tanta coisa para dar conta e principalmente com a conversa que irá ter com seus alunos durante a construção do conhecimento. Do mesmo modo, se preocupa e reflete antes de pronunciar-se frente às colegas e demais pessoas presentes afim de não ofender ninguém e de não colocar flores onde não há. Pios, para ele, flores só na teoria, quem exerce a prática, sabe o que enfrenta.
Durante os momentos de reflexão, horas de sono perdido, percebo que ele busca trabalhar de forma construtiva, partindo do micro para o macro, favorecendo assim, para a formação crítica-reflexiva. Também, percebo a necessidade de ter um conforto amigo, e por isso, que não me ausento de seus momentos de reflexão, estudos e planejamento. Mesmo quando não sou útil, estou ao seu lado com muito orgulho, lhe observando atentamente.
Para finalizar, gostaria de dizer que é ótimo ser o que sou, em especial, de um professor, pois, posso presenciar as dificuldades encontradas no mundo da educação, ver as alegrias e as angústias do docente, porém é gracioso quando dou uma ajudinha. Vejo também os valores que o professor deseja construir com seus alunos, valores essenciais como: respeito, ética, responsabilidade, solidariedade...
Percebo que sou útil durante os momentos de leitura e reflexão, e quando o professor está angustiado e de cabeça quente, basta um “chamado”, que com o meu movimento giratório, libero ar e refresco seu humilde quarto. Assim, o simpático companheiro esfria a cabeça, organiza as ideias e se prepara para enfrentar mais uma batalha. Por fim, meu maior contentamento é quando o educador está feliz e me “chama” para refrescar o ambiente, pois vejo que sou indispensável tanto nos momentos de angústias como em situações de alegria. Logo, procuro executar o que me foi solicitado (ventilação) e com isso, a felicidade contagia o local. 
A foto é atual, mas o ventilador é o retratado no texto - 2013!



[1] Trabalho realizado na Graduação de Pedagogia, na Faculdade do Sertão Baiano-FASB, em junho de 2013, sob orientação da professora Verbenia Markley Guimarães.
[2] Docente da Rede Municipal de Ensino de Monte Santo/BA (atualmente é Gestor Escolar). Graduado em Pedagogia pela Faculdade do Sertão Baiano-FASB (2015) e Pós-Graduado em Alfabetização e Letramento na FASB (2016).

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