Amigo
de todos os momentos[1]
Sidmar da Silva
Oliveira[2]
Todos os dias, observo um
amigo que é professor, durante o processo de reflexão e planejamento das aulas,
bem como, os estudos que realiza a fim de ter uma formação continuada e assim,
poder lidar com as diferentes temáticas e as dificuldades encontradas em sala
de aula. Há dias que esse educador ao chegar muito cansado em sua casa, logo
entra em seu quarto, onde há cama, computador, impressora, uma pequena
biblioteca... Joga-se na cama e reflete sobre a aula do dia, o que fazer
amanhã, as habilidades que vem desenvolvendo, problemas enfrentados... Enfim,
vejo um rapaz com cara de preocupado com tudo.
Apesar de sua vida corrida e
complicada, vejo que ele dá seu máximo, tanto como professor, como aluno da
Faculdade do Sertão Baiano-FASB, onde estuda; e que sou muito importante para
ele, já que me deseja ao seu lado e sempre me pede ajuda. Eu como bom amigo,
jamais me recuso a ajudar, pois vejo a educação como um momento de interação
entre os recursos que há em um espaço físico, e sei que onde não sou utilizado,
pode haver certo desconforto.
Certo dia, observei o
professor dizer que tinha assistido a um filme (como estrelas na terra) e que
este filme lhe trouxe uma grande reflexão acerca do processo educacional e com
isso, iria se tornar mais flexível com seus alunos que apresentam dificuldades.
Já ajudei o mesmo a construir uma TV de papelão, alfabeto móvel, números
móveis, bingos dentre tantos outros recursos, a fim de mudar a realidade dessas
crianças. Vi o mesmo muito preocupado com alguns alunos, com as cobranças do
sistema, com inúmeros trabalhos da faculdade... Entretanto, muito motivado
perante seu trabalho e estudos.
Nos domingos, vejo meu amigo
rodeado de livros, atividades e pesquisando no computador, tudo isso, a fim de
preparar aulas desafiadoras. Quando estou ajudando, às vezes derrubo alguma
coisa (atividade) e ele quando de bom humor - ri, quando irritado por não ter
tempo para passear, distrair com os amigos, fica muito bravo, mas agradece a
Deus e a mim por estarmos de seu lado lhe ajudando. Ele procura planejar suas
aulas com muita organização e sentido, partindo valorização dos conhecimentos
prévios e da realidade de seus alunos, visando tornar a educação libertadora e
que possa ter sentido para a vida dos educandos.
Meu cordial amiguinho,
sempre procura trocar experiência com os colegas, aplica-se perante os
trabalhos e estudo da faculdade, se comparece e participa das reuniões
pedagógicas e reflete as teorias estudadas a fim de incorporá-las a sua pratica
pedagógica. Ele costuma dizer que “na teoria é flores e que a prática só sabe
quem convive com ela”. Todavia, dá muita ênfase a teoria. Procura unir o que
aprende com os professores e o estudo dos teóricos, a sua metodologia de
trabalho. Com meu auxílio para distrair; reflete, pesquisa, planeja e
replaneja suas aulas, visando propiciar uma aprendizagem prazerosa e
significativa.
Seu trabalho tende a
desenvolver processo de alfabetização e letramento, bem como a reflexão e a
formação crítica-reflexiva da criançada. Ele é professor do terceiro ano, e
espera ao final do ano, perceber que seus alunos desenvolveram as habilidades
trabalhadas, tornando-os competentes e preparados para a sequência de estudos e
a vivencia na sociedade.
Certo dia, ele chegou e
deitou-se em sua cama e me pediu auxílio, não por estar angustiado, mas sim por
estar feliz, já que, seus alunos haviam lido e compreendido um convite
elaborado pela escola, para os pais. Atendi o professor que
se deliciava com os resultados que começavam a aparecer. Enfatizava ainda, que
corria muito, não tinha descanso e nem lazer, mas começava a ver que as
metodologias de leitura começavam a servir para a vida dos alunos. Falava
ainda: "que bom, a escola, educação e leitura não podem ser só para notas, mas
sim para a compreensão e significado do mundo".
Vejo o docente preocupado
com tanta coisa para dar conta e principalmente com a conversa que irá ter com
seus alunos durante a construção do conhecimento. Do mesmo modo, se preocupa e
reflete antes de pronunciar-se frente às colegas e demais pessoas presentes
afim de não ofender ninguém e de não colocar flores onde não há. Pios, para
ele, flores só na teoria, quem exerce a prática, sabe o que enfrenta.
Durante os momentos de
reflexão, horas de sono perdido, percebo que ele busca trabalhar de forma
construtiva, partindo do micro para o macro, favorecendo assim, para a formação
crítica-reflexiva. Também, percebo a necessidade de ter um conforto amigo, e
por isso, que não me ausento de seus momentos de reflexão, estudos e
planejamento. Mesmo quando não sou útil, estou ao seu lado com muito orgulho,
lhe observando atentamente.
Para finalizar, gostaria de
dizer que é ótimo ser o que sou, em especial, de um professor, pois, posso
presenciar as dificuldades encontradas no mundo da educação, ver as alegrias e
as angústias do docente, porém é gracioso quando dou uma ajudinha. Vejo também
os valores que o professor deseja construir com seus alunos, valores essenciais
como: respeito, ética, responsabilidade, solidariedade...
Percebo que sou útil durante
os momentos de leitura e reflexão, e quando o professor está angustiado e de
cabeça quente, basta um “chamado”, que com o meu movimento giratório, libero ar
e refresco seu humilde quarto. Assim, o simpático companheiro esfria a cabeça,
organiza as ideias e se prepara para enfrentar mais uma batalha. Por fim, meu
maior contentamento é quando o educador está feliz e me “chama” para refrescar
o ambiente, pois vejo que sou indispensável tanto nos momentos de angústias como
em situações de alegria. Logo, procuro executar o que me foi solicitado
(ventilação) e com isso, a felicidade contagia o local.
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A foto é atual, mas o ventilador é o retratado no texto - 2013! |
[1] Trabalho realizado na Graduação de Pedagogia,
na Faculdade do Sertão Baiano-FASB, em junho de 2013, sob orientação da
professora Verbenia Markley Guimarães.
[2] Docente da Rede Municipal de Ensino
de Monte Santo/BA (atualmente é Gestor Escolar). Graduado em Pedagogia pela
Faculdade do Sertão Baiano-FASB (2015) e Pós-Graduado em Alfabetização e
Letramento na FASB (2016).
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